Ontem
ao deitar na cama, me peguei rindo da piada pronta: estava lembrando de um
vídeo que recebi no Facebook, em que um parlamentar do Estado de São Paulo
chamava de “vagabundos” alguns presentes naquela sessão na Assembleia
Legislativa.
Tratava-se
a sessão de votação da reforma da previdência dos servidores públicos
estaduais. A plateia em questão eram servidores públicos em protesto à reforma.
As ofensas, pelo que vi no vídeo mais completo hoje de manhã (o assunto não
saíu da minha cabeça) era direcionado aos “líderes sindicalistas” (fala do
deputado) presentes no ato, cuja “mamata ao dinheiro público seria cortada”.
A
princípio, pensei, aquilo seria mimimi de político de direita com sindicato de
esquerda. Mas, refletindo sobre o assunto, vejo o subtexto contido nessa
bagunça e, sim, acabo me sentindo um lixo.
O
tema em discussão para posterior votação era a reforma da previdência dos
servidores estaduais. Portanto, quando o deputado teve um ataque de pelanca e
disse que ia acabar com essa mamata com o dinheiro dos contribuintes
sacrificados, com “esses privilégios”, não era de sindicalismo que ele se
referia: era de serviço e servidores públicos.
Ao
me deparar com essa conclusão que minha medíocre inteligência fez óbvia, eu
respondo ao deputado quando pergunta “tá ofendidinho?” que sim, eu estou muito
ofendida!
Já
escrevi no texto “A insustentável leveza do serviço público” sobre orgulho em
ser servidora pública, especificamente Agente de Segurança Penitenciária. Lá
também falei sobre a peculiaridade, esforço e sacerdócio do serviço público. E
lá até já escrevi sobre a austeridade que deve existir no cumprimento de
deveres e no controle rigoroso e efetivo de tais cumprimentos. Então, hoje vou
escrever sobre a culpa.
Me
sinto culpada! Culpada, por nem ter a mínima idéia de quem seja esse deputado “Filho
da Mãe” – nunca vi mais gordo. Estou errada! Errada como cidadã, principalmente.
Como servidora pública e como cidadã, não devo ser alheia aos acontecimentos
políticos e seus atores, sob risco de ser refém de idiotas completos,
exibicionistas de modinha de internet e fake News. Se dependemos da política,
devemos ser atuantes nela também, para que ao manifestarmos opiniões sobre a
influência política em nossas vidas, não sejamos vistos como oportunistas –
coisa que estou longe de ser, como minha carreira mostra e me orgulha.
Culpa!
Sou culpada por não ter feito mais para que esse estigma do “vagabundo” não
mais vagasse no imaginário popular, a ponto de ser tão bem explorado pelo filho
da mãe. Também no texto citado, já escrevi sobre exigência do cumprimento das
funções, o “fazer e exigir que façam”. Se por um lado a estabilidade do servidor
público é garantia de que não será prejudicado quando atuar contra interesses
superiores em defesa do Estado, tal estabilidade deve ser honrada com muito
trabalho e sacerdócio – adoro essa palavra – pois sim, somos diferenciados. Em
assim sendo, quando sou omissa aos que não honram o serviço público, deixo
manchar a figura tão honrosa do servidor, de maneira que sou cúmplice da
desídia que leva um deputado a estar em plenário e encher a boca para me chamar
de vagabunda.
Por
essas, não me sinto culpada quando atuei diretamente em punição e demissão a bem do serviço público de servidores que desonravam sua função pública, seus direitos,
deveres e estabilidade. Tem que ser feito! O serviço público deve ser honrado
pelos seus servidores, para que empenhemos dignidade e competência.
Portanto,
quando um político chama servidores públicos de vagabundos, devo informar que
vagabundo é justamente quem atua no controle do serviço público. Da mesma forma
que o “privilégio da estabilidade existe”, existem deveras exigências que devem
ser cumpridas. A legislação, em especial o Estatuto do Funcionário Público do
Estado de São Paulo, aponta dos direitos e deveres do servidor, de maneira que
tais devam ser rigorosamente aplicados. Se tem funcionário “vagabundo” é porque
por trás tem uma liderança omissa em cobrança, pois legislação para controlar e
punir tem. A legislação está longe de ser protecionista ao servidor público –
diria que muito pelo contrário! E de novo falo do “parece que todo mundo está
cansado: o servidor não quer fazer, seu superior não quer cobrar, os diretores
esquivam-se. Um não mexe com o outro, e a vida segue: Morna, estagnada, inútil”.
Assim
sendo, deveria ser proposto ao Estado (seu executivo e legislativo) o desafio
não de enxovalhar seus servidores, mas de honrá-los com eficiência. Eficiência no
controle da máquina pública. Eficiência em separar joio de trigo, ao invés de
se aproveitar do balaio de gato que se formou. Eficiência em entender o que é o
servidor público, as razões de seus direitos peculiares e de suas obrigações
rigorosas. E que tal seja muito bem aplicado, para que haja o verdadeiro sucesso
na gestão pública.
Por
hora, esse circo criado para a discussão séria do desmonte do servidor público
só me faz vergonha. Vergonha de quem atua, vergonha por termos deixado chegar a
esse ponto. Vergonha da exploração da incompetência de gestão para sacrificar
agentes públicos. Convenhamos, a culpa é minha da incompetência na aplicação da
lei? Façam com que os artigos 241 e 242 do Estatuto funcione para que a máquina
seja honrada. As mudanças necessárias não são as que estão em discussão!
Bora
trabalhar! Bora ser ético e parar de ser oportunista.
Pronto
falei, filho da mãe!
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